por Anibelli Garcia
“Os olhos são a candeia do corpo. Se seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas, se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de vocês são trevas, que tremendas trevas são!” (Mateus 6:22-23).
A maneira como enxergamos as coisas, circunstâncias e, especialmente, as pessoas, reflete diretamente na maneira como lidamos com elas. Talvez por isso, o Senhor Jesus declarou que existem apenas dois tipos de olhos: os bons e os maus (Mt 6:22-23).
Mas o Mestre não só falou do tipo de olhos, Ele também disse que haveria consequências internas, ou seja, no caráter das pessoas de conformidade com o tipo de olhos que a pessoa têm. As consequências? Luz ou trevas no seu interior. O tipo de olhos de uma pessoa é refletido em suas atitudes. Sim, de acordo como “olhamos” para as pessoas será a maneira como tratamos o próximo.
Os olhos bons, clareiam, irradiam luz. E como é bem mais fácil enxergar quando há luz, não é mesmo! Porém, os olhos maus são como as trevas. Não se enxerga quando está tudo escuro. E mesmo que alguém consiga ver alguma coisa, terá uma visão distorcida daquilo que vê.
Quando nossos olhos são bons, deixamos de olhar com os olhos carnais, nos tornando dependentes do Espirito Santo que nos ajuda a ver as coisas como Ele vê. Porém, precisamos estar sempre atentos, pois, há um grande risco de, por algum momento, deixarmos de olhar com os olhos espirituais, não vendo segundo o que Deus vê.
Infelizmente, nos dias atuais, muitos líderes têm deixado a “luz de seus olhos se apagarem” permitindo que se tornem “maus”.
Nosso relacionamento com nosso próximo está totalmente ligado a maneira de como vemos, ou enxergamos. Você já parou para pensar quantas vezes nos pegamos analisando a vida e o comportamento de nosso próximo como se fossemos especialistas, psicólogos, psicanalistas, ou qualquer outro profissional de áreas similares?
Agimos como se já soubéssemos que, devido a sua personalidade, uma pessoa dará esse ou aquele passo, fará isto ou aquilo. Chegamos muitas vezes ao ponto de dizer que uma pessoa não terá o futuro que almeja pelo simples fato de julgarmos que a conhecemos e, por isso, supor que seu próximo passo será um fracasso, ou que irá desistir.
Infelizmente, nos dias atuais, muitos líderes têm deixado a “luz de seus olhos se apagarem” permitindo que se tornem “maus”. Desta forma, sua capacidade de acreditar nas pessoas, de confiar, ou até mesmo de incentivar, ou investir nelas, mínguam e as trevas geram desconfiança, insegurança e medo.
Neste sentido, posso imaginar a cena de um hospital, onde o paciente aguarda com expectativa o resultado de um exame para diagnosticar um possível câncer. Claro que ele deseja que o resultado seja negativo, pois, ele acredita, sonha, mantém suas esperanças. Contudo, o médico mesmo antes de abrir o resultado do exame, olha para seu paciente e, baseado na sua aparência física, insinua um resultado positivo.
Na realidade, é impossível sabermos o que está escrito no resultado de um exame antes de abri-lo. Não podemos afirmar se o resultado é positivo ou negativo, não devemos antecipar um resultado tão sério pela simples aparência do paciente. Sim, sabemos que os médicos erram muitas vezes em seus diagnósticos de consultório, sem exames mais profundos e específicos, quanto mais pessoas como nós.
O objetivo de Jesus ao escolher seus discípulos eram de que eles continuassem sua missão de expandir o Reino de Deus na Terra, mas sua escolha foi além das expectativas humanas, além do que as pessoas falariam, além até mesmo do que Ele via em cada um dos doze.
Se analisarmos as características destes discípulos …, tenho certeza de que não aprovaríamos nenhum, exceto Judas
Jesus verdadeiramente correu um grande risco ao tê-los escolhido, pois, eles não tinham o perfil que nós talvez julgaríamos “ideal” para tamanha responsabilidade. Sim, claro que Jesus é Deus e seus planos, suas escolhas são e sempre serão perfeitas. Vejamos alguns do time escolhido por Jesus:
Comecemos por Mateus, que tinha uma péssima reputação, conhecido por sua corrupção. Tomé, tinha a paranoia da insegurança, só acreditava no que tocava, desconfiava de tudo e de todos, o mundo tinha que girar em torno das suas verdades.
Pedro, era o mais forte, determinado e sincero do grupo, mas era inculto, iletrado, intolerante, irritado, agressivo, inquieto, impaciente, indisciplinado, não suportava ser contrariado, não planejava o futuro, vivia somente em função do presente, além de tudo era imperativo e extremamente ansioso, repetia os mesmos erros com frequência, mesmo assim foi escolhido.
João era o mais jovem, amável, prestativo e altruísta, porém, ambicioso irritado, intolerante, intempestivo, nunca se colocava no lugar dos outros e não pensava antes de reagir, almejava a melhor posição entre os discípulos. A personalidade de João tinha paradoxos, era simples e explosiva, amável e flutuante.
Judas Iscariotes era moderado, dosado, discreto, equilibrado e sensato, não há elemento que indiquem que se tratava de uma pessoa tensa, ansiosa e inquieta, nunca tomou uma atitude agressiva ou impensada, jamais foi repreendido por seu Mestre.
Se analisarmos as características destes discípulos citados acima, tenho certeza de que não aprovaríamos nenhum, exceto Judas que aparentemente era o mais polido, mas foi exatamente ele quem traiu o Mestre. Os discípulos tinham muitos defeitos em sua personalidade, mas se Jesus tivesse apontado somente para seus erros, Ele nunca descobriria o time maravilhoso que estava com Ele.
Jesus simplesmente deu a eles a oportunidade de serem pessoas excelentes, Jesus viu algo neles e quando ninguém os escolheria, Jesus os Escolheu, quando ninguém acreditaria neles, Jesus acreditou, e não foi aos melhores sacerdotes que Jesus confiou sua missão, mas foi a estes sem nenhuma capacidade aos olhos de alguém.
Muitos de nós hoje, deixamos pessoas deslumbrantes e cheias de potencial se esconderem sentadas nos bancos de suas igrejas, angustiadas por quererem fazer mais, buscar expandir aquilo que há dentro delas. Julgamos que estas não estão preparadas, ou precisam ser aperfeiçoadas, etc. Os discípulos de Jesus foram aperfeiçoados a medida com que andavam com ele, depois de deixar tudo e segui-lo, Jesus fez deles grandes homens.
Precisamos aprender que erramos ao julgar a capacidade de alguém, especialmente na obra de Deus.
Um dia alguém me disse que eu chegaria até onde estou, pois, transmitia o desejo de “ir”, e realmente não tinham dúvidas de que eu havia nascido para isso, para o meu chamado. Mas, mal sabiam eles que muitas vezes tive medo, pensando que seria impossível. No caminho até onde cheguei, existiram pessoas que me apontaram o dedo e jogaram pedras nos meus sonhos, não acreditaram em meu ministério, e chegaram a me dizer isso pessoalmente.
É como seu estivesse na sala daquele médico e antes mesmo de abrir o resultado ele me dissesse: “eu não preciso abrir o envelope para saber que você está doente e vai morrer dentro de alguns dias” … O que você faria? Eu simplesmente não acreditei no que as pessoas pensavam de mim eu sabia que o envelope da minha vida continha algo que as pessoas desconheciam, existia dentro dele um sonho que somente Jesus podia ver, e eu acreditei neste sonho.
Precisamos aprender que erramos ao julgar a capacidade de alguém, especialmente na obra de Deus, pois, nenhum de nós estamos prontos para nada, precisamos ser aperfeiçoados para fazer algo. A verdade é que Jesus é o especialista em usar as “coisas que não são para confundir as que são” (1 Co 1:28).
Depois de ter negado Jesus três vezes, Pedro foi um dos grandes homens usados por Deus e converteu muitas pessoas. Às vezes, só depois de cometermos muitos erros e descobrimos defeitos ao longo do caminho é que vemos quão grande é o poder de Deus para nos transformar e nos fazer acreditar em nós mesmo, simples pecadores.
Existem pessoas que precisam de nossa ajuda para serem grandes homens e exercerem sua missão. Elas necessitam de uma palavra de confiança, de pessoas que lhes vejam com os olhos de Cristo. Ainda que tenhamos algumas decepções, devemos lembrar que nós também erramos, e mesmo assim Ele nos escolheu, e nos confiou o nome de “cristãos” que quer dizer discípulos ou imitadores de Cristo. Então lutemos para ser como Ele é.
Que Deus nos dê olhos bons para enxergarmos como Ele enxerga. Desta forma jamais envergonharemos seu nome julgando temerariamente as pessoas, pelo contrário, ajudaremos muitos outros, dando-lhes a oportunidade devida para serem usados por Deus e aperfeiçoados nEle e por Ele (Jo 17:23; Cl 2:10; Hb 11:40).
Anibelli Garcia é missionária da WH Brasil, juntamente com seu esposo, Jefferson Garcia e filhos, Samuel (7 anos) e Eloah (4 anos), tendo servido no Oeste Africano por 10 anos.
Observação: O trecho acima destacado em itálico sobre a qualidade e desqualificações dos discípulos foram descritas por Augusto Cury em seu livro “Nunca desista de seus sonhos”.